segunda-feira, 30 de março de 2009

PROFISSÃO DE FÉ






Descobri muito cedo
Que ao ler um poema
Meu dia transfigurava-se.
Sentia que já não era apenas uma
Menina insistindo em crescer
Era uma mulher;
Flor desabrochando para a vida e,
Encantada,
Absorvia o mundo pelo lado mais delicado.
Desde então, a poesia tem sido minha companheira
Inseparável
Meus mantras no amanhecer,
Meu campo de sonhos e,
Sem pudores,
Parafraseio Bandeira:
-Eu leio versos como quem reza!



foto1: quadro da web
foto2:eu não quero outra vida...

Conceito de eternidade








Diariamente
Alimento minh’alma de canções
Que me remetem a um mundo
De lembranças.
Felizes lembranças,
Pedaços do que fui e sou.



Recorro à música
Para encantar momentos,
Celebrar cada sonho conquistado
Aguçar meus sentidos,
E declarar a quem comigo caminha,
Que “em mim o eterno é música e amor”.*

*Eterno em Mim-Caetano Veloso


*fotos da web

sexta-feira, 20 de março de 2009

No sonho





" Para encontrar o homem dos seus sonhos
Ela se enfeita, se maquia, se penteia
E vai dormir"
O homem dos sonhos - Raiça Bomfim


Ando depressa, quase correndo, pés chapinhando nas poças da rua semi-deserta e mal-iluminada. Cada sentido do meu corpo está em alerta, numa sensação ambígua de quase-medo, de quase- êxtase.Digo a mim mesma que é só mais um pouco . Já, já, chegarei aonde quero.
Aperto o passo e respiro grandes golfadas de ar, que dilatam minhas narinas e trazem-me cheiros ora desconhecidos, ora familiares, nesta noite abafada, com céu de poucas estrelas. Minha vontade de chegar é maior do que pode ir meu passo. Sinto como se imãs me prendessem ao chão enquanto o pensamento anseia por asas, o que, aliás, em sonho, seria perfeitamente possível.
Mas não. Mesmo em sonho tenho plena consciência de que devo caminhar mais e mais. Como se minha espera tivesse que “viver” esse momento já que meu caminhar intensifica o meu desejo de chegar, confirma o meu projeto de vida. Estou indo ao teu encontro, decidida, firme, pois sei que estás à minha espera. Sei que nossas almas irmãs se reconheceram e se amam há milênios.
Ao dobrar uma esquina, vejo-me diante de ti. Lindo, inteiro. Minha boca seca e não encontro palavras para descrever o que sinto, mas percebo que teu olhar não se surpreende com minha presença . Sim, é verdade então que me aguardavas tanto o quanto eu te buscava. Respiro, tento me acalmar. Apenas o sorriso do olhar diz “eu te amo”.
Caminhas na minha direção, olhando-me intensamente. Abraça-me receptivo, atento, com ternura de amante saudoso. Trêmula, mergulho num turbilhão:delicio-me com o cheiro da tua pele, sinto teu calor, tua respiração ofegante e, mais uma vez, digo a mim mesma: teu abraço é meu lugar nesta dimensão.
Sim, porque em todas as minhas vidas eu estive aqui.

Do ato de ler




Ler um poema
É como visitar um templo:
O belo e o sagrado se irmanam
No ritual da alegria.
Com o coração aguardando surpresas
Percorro seus corredores,
Feito um fantasma traquino,
Deliciando-me com
Palavras, frases,
Segredos compartilhados.

Às vezes sinto uma enorme vontade
De deixar pegadas.
De estabelecer contato.
E faço.
Lendo e relendo cada verso,
Saboreando palavras,
Mastigando rimas,
Adivinhando o sentimento
Das entrelinhas,
Sublinhando,
Fazendo-me cúmplice

Não raro incorporo a musa
E fantasio que a mim foram ditas todas as palavras de amor,
Por mim foram cometidas todas as loucuras,
Revelados todos os sonhos e desejos inconfessáveis.

Bendito seja quem se encontra e se ama
No altar deste templo!
Bendito o amor, poesia da vida!

Sonho, fantasia...







Meu sonho
Mais recorrente
São as promessas
Que li
Em teu olhar


Minha fantasia mais
Intensa
É tua voz
Sussurrando em meu ouvido.

Amo-te nas entrelinhas
Do cotidiano.

Amanhecer







"Tu que andas pelo mundo
Tu que tanto já voou"...
(Sabiá - Luiz Gonzaga/Zé Dantas)



Passarinho
Teu canto de acordar o sol
Faz-me lembrar que
Não sou o bicho urbano
Que aparento e,
Tristemente constatar que
Engaiolados estamos,
Você e eu.

foto:http://www.flickr.com/photos/jimsk/89258076/

segunda-feira, 9 de março de 2009

Um poema para a noite



Noite
Cúmplice dos meus desvarios
Fantasias de quem aprendeu a ser livre e
Não pretende abrir mão do reino conquistado.
Da noite, nada nego e nada escondo
A ela ofereço meu sorriso mais sincero
Meu beijo mais apaixonado
Meu abraço mais intenso.
Por fim, recolho minhas asas
Ou a vassoura,
Conforme o programa,
Rezo um poema,
Durmo e ela ainda cabe
No espaço do meu sonho.



Corujice*




*Porque não haverá AMOR MAIOR...


Meu filho
Nada me faz mais feliz,
Mais emocionada,
Mais mãe,
Do que te perceber
Encantado com a vida,
Descobrindo o mundo,
Construindo afetos.

Nada me envaidece mais
Do que me perceber em ti
Alma e coração
Na boca
Olhos brilhando
De curiosidade,
Atitude positiva e,
Ao mesmo tempo,
Crítica, em relação
Ao que te cerca.

Nada me faz querer crescer mais
Como ser humano
Do que o teu próprio
Crescimento e a
Promessa diária
De viver
Para agradecer
O presente
De ser tua mãe.

* Para Vinícius, paixão das paixões.

domingo, 8 de março de 2009




FINGIR PRA QUÊ?* ou "O PRAZER É TODO MEU"...

* Este texto é fruto de uma provocação: - “Escreve para o grupo, vai. Disse-me Márcia Ribeiro, (poetisa carioca) do site www.anjoscaidos.jor.br o (ou foi no grupo do www.anjosdeprata.com.br )? Ao telefone. Estamos conversando sobre prazer, sobre sentir, sobre fingir...” - Compartilha tua opinião conosco... Engoli corda, escrevi, meu companheiro encaminhou ao grupo e os Anjos foram muito simpáticos comigo.
Isso foi em 2003, se não me falha a memória, mas não mudei de opinião.
Revisitei este texto ao rever o filme "O Prazer é todo Meu"(Tout le plaisir est pour moi, Françe, 2005) Saudades de Márcia.
Recanto das Letras, em 12/08/2007

FINGIR PRA QUÊ?

Amigos Anjos: a Márcia me provocou e eis-me aqui aceitando o desafio proposto. Antes de qualquer coisa, permita-me invadir suas telas em lugar não permitido, mas convidada por uma Anja, com a intenção, literal, de apimentar a conversa e jogar lenha na fogueira, com o compromisso de ser bem direta.
Iniciarei problematizando (sou Freireana...): por que fingir sentir o que não sentimos?
Para não magoar quem (com sua insensibilidade) nos magoa?
Para agradar (mesmo que não SE agrade)?

Para satisfazer (mesmo que não SE satisfaça)?
Finge, por que não conhece seu corpo?
Finge, por que não se permitiu “aprender como se goza”?
Finge, por que fingindo acaba logo?
Finge, por que não gosta nem se permite gostar?
Finge, por que gozar é pecado?
Finge, por que se permitir prazer não é coisa de mulher séria?
Fingir pra quê?

Por que não fingir?

Fingir deve dar mais trabalho do que ser honesta consigo mesma. Fechar os olhos, ouvir seus desejos, aprender a geografia do próprio corpo, conduzir o ritmo do parceiro, relaxar. Fingir deve dar mais trabalho do que olhar para nós e admitir nossa condição de fêmea, de que temos hormônios que às vezes estão em baixa e outras nos fazem subir pelas paredes.
Fingir deve exigir mais do que a aventura de reconhecer que temos fantasias (que nem sempre pretendemos realizá-las, mas temos), que o nosso tesão é latente e, a qualquer momento, em qualquer situação, sob qualquer pretexto, pode ser ativado.
Além do que fingir “vamo combinar” que é absolutamente humilhante, reduz a gente à condição de disponibilidade eterna. Ora bolas, não sentir vontade, sempre, é natural, é orgânico (lembremos-nos dos hormônios). Fingir não dá brilho no olho, pele boa, riso fácil ou produção de endorfina. E aquela que finge se priva de experimentar uma sensação maravilhosa que só quem goza sabe.
Adotem este lema cujo autor me foge à memória: sexo quando é ruim, é bom; e quando é bom, é ótimo.
E não coloque na mão (ou no pênis) de seu parceiro a responsabilidade da sua felicidade. Um beijão para todos!

Edna Lopes

Infância*



Por edna lopes



Lembro de meu pai
Cantando um aboio triste.
Era a história de um vaqueiro
Falando de perda, de morte,
Da tristeza de deixar o mundo e do
Convívio com os animais.
A música também falava
De esperança,
De que no céu tudo
Continuaria e seria até melhor.
Eu ouvia tudo encantada,
Meu coraçãozinho de menina
Ficava apertado!
Solidarizando-me intimamente
Com a dor daquele homem,
Compadecendo-me do seu destino.
Agora, já adulta, recorro
A essa e a outras tantas lembranças
Deliciosas
Que me fizeram ser quem sou
E que ainda fazem meu coração
Bater mais forte
Quando ouço aboios e me deparo com imagens
Que me transportam àqueles tempos de menina do interior.

*Publicado no livro "A Poesia das Alagoas", lançado na III Bienal Alagoana do Livro", no dia 21 de outubro de 2007.

fotos de acervo pessoal